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sexta-feira, 30 de julho de 2010




INTERTEXTUALIDADE E INTERDISCURSIVIDADE






Não há, portanto, discurso que não se relacione com outros. Num processo contínuo, um dizer aponta para outros dizeres _ “já-ditos” _ que o sustentam, assim como para dizeres futuros. Não há dessa forma, começo absoluto nem ponto final para os discursos. 
Desse modo, para se interpretar um texto, devem-se considerar algumas questões: em que condições sócio-históricas um discurso “x” já se manifestou? Quem o produziu? A quem ou a que se refere?







  .Intertextualidade , é um processo alusivo às diferentes relações que um texto mantém com outros textos. Já a interdiscursividade diz respeito às relações que o texto mantém com sua exterioridade, entendida como condições de produção do discurso.A  intertextualidade aponta para uma origem que se pode identificar (como nos casos de paródias, paráfrases, etc.); a interdiscursividade, ao contrário, faz alusão a dizeres, outros discursos, os quais se encontram dispersos e cuja origem não pode ser identificada. Nas paródias e paráfrases (e processos semelhantes de retomada), os dizeres são facilmente identificáveis. Quando se trata da interdiscursividade, diferentemente, as marcas da sua procedência são “apagadas”, ou seja, não é possível identificar com precisão a origem do texto.

(In: PEREIRA, Aracy Ernst e FUNK, Susana (orgs). A leitura e a escrita como práticas discursivas. Pelotas: Educat)


 

Texto e discurso


 Conjunto de palavras e frases articuladas, escritas sobre qualquer suporte”
Um texto é uma ocorrência lingüística, escrita ou falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal. É uma unidade de linguagem em uso.
Um texto pode ser escrito ou oral e, em sentido lato, pode ser também não verbal.
Todo texto tem que ter alguns aspectos formais, ou seja, tem que ter estrutura, elementos que estabelecem relaçao entre si. Dentro dos aspectos formais temos a coesão e a coerência, que dão sentido e forma ao texto. "A coesão textual é a relação, a ligação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto” A coerência está relacionada com a compreensão, a interpretação do que se diz ou escreve. Um texto precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência. Embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes, a coerência depende da coesão.


                                           







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terça-feira, 27 de julho de 2010

Teatro





O teatro  é uma forma de arte em que um ator ou conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades para o público em um determinado lugar. Com o auxílio de dramaturgos ou de situações improvisadas, de diretores e técnicos, o espetáculo tem como objectivo apresentar uma situação e despertar sentimentos no público. Teatro é também o termo usado para o local onde há jogos, espectáculos dramáticos, reuniões, apresentações, etc.

(Vista de antigo teatro na Grécia - Antiga cidade de Epidauro (360-350 AC).)


O termo teatro e seus significados

Segundo a Enciclopédia Britannica, a palavra teatro deriva do grego theaomai - olhar com atenção, perceber, contemplar (1990, vol. 28:515). Theaomai não significa ver no sentido comum, mas sim ter uma experiência intensa, envolvente, meditativa, inquiridora, a fim de descobrir o significado mais profundo; uma cuidadosa e deliberada visão que interpreta seu objeto.


O teatro, mais do que ser um local público onde se vê, é o lugar condensado das ambiguidades e paradoxos, onde as coisas são tomadas em mais de um sentido.







Origens da arte teatral




Existem várias teorias sobre a origem do teatro. Segundo Brockett, nenhuma delas pode ser comprovada, pois existem poucas evidencias e mais especulações. Antropologistas ao final do século XIX e no início do XX, elaboraram a hipótese de que este teria surgido a partir dos rituais primitivos (History of Theatre. Allyn e Bacon 1995 pg. 1). Outra hipótese seria o surgimento a partir da contação de histórias, ou se desenvolvido a partir de danças, jogos, imitações. Os rituais na história da humanidade começam por volta de 80.000 anos AC.




O primeiro evento com diálogos registrado foi uma apresentação anual de peças sagradas no Antigo Egito do mito de Osíris e Ísis, por volta de 2500 AC (Staton e Banham 1996 pg. 241), que conta a história da morte e ressurreição de Osíris e a coroação de Horus ( Brockett, pg. 9). A palavra 'teatro' e o conceito de teatro, como algo independente da religião, só surgiram na Grécia de Psístrato (560-510AC), tirano ateniense que estabeleceu uma dinâmica de produção para a tragédia e que possibilitou o desenvolvimento das especificidades dessa modalidade. As representações mais conhecidas e a primeira teorização sobre teatro vieram dos antigos gregos, sendo a primeira obra escrita de que se tem notícia, a Poética de Aristóteles.






Aristóteles afirma que a tragédia surgiu de improvisações feitas pelos chefes dos ditirambos, um hino cantado e dançado em honra a Dioniso, o deus grego da fertilidade e do do vinho. O ditirambo, como descreve Brockett, provavelmente consistia de uma história improvisada cantada pelo líder do coro e um refrão tradicional, cantado pelo coro. Este foi transformado em uma "composição literária" por Arion (625-585AC), o primeiro a registrar por escrito ditirambos e dar a eles títulos.









As formas teatrais orientais foram registradas por volta do ano 1000 AC, com o drama sânscrito do antigo teatro Indu. O que poderíamos considerar como 'teatro chinês' também data da mesma época, enquanto as formas teatrais japonesas Kabuki, Nô e Kyogen têm registros apenas no século XVII DC.









O teatro no Brasil surgiu no século XVI, tendo como motivo a propagação da fé religiosa. Dentre uns poucos autores, destacou-se o padre José de Anchieta, que escreveu alguns autos (antiga composição teatral) que visavam a catequização dos indígenas, bem como a integração entre portugueses, índios e espanhóis. Exemplo disso é o Auto de São Lourenço, escrito em tupi-guarani, português e espanhol.




Um hiato de dois séculos separa a atividade teatral jesuítica da continuidade e desenvolvimento do teatro no Brasil. Isso porque, durante os séculos XVII e XVIII, o país esteve envolvido com seu processo de colonização (enquanto colónia de Portugal) e em batalhas de defesa do território colonial. Foi a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, que trouxe inegável progresso para o teatro, consolidado pela Independência, em 1822.

O ator João Caetano formou, em 1833, uma companhia brasileira. Seu nome está vinculado a dois acontecimentos fundamentais da história da dramaturgia nacional: a estreia, em 13 de março de 1838, da peça Antônio José ou O Poeta e a Inquisição, de autoria de Gonçalves de Magalhães, a primeira tragédia escrita por um brasileiro e a única de assunto nacional; e, em 4 de outubro de 1838, a estreia da peça O Juiz de Paz na Roça, de autoria de Martins Pena, chamado na época de o "Molière brasileiro", que abriu o filão da comédia de costumes, o gênero mais característico da tradição cênica brasileira.





Gonçalves de Magalhães, ao voltar da Europa em 1867, introduziu no Brasil a influência romântica, que iria nortear escritores, poetas e dramaturgos. Gonçalves Dias (poeta romântico) é um dos mais representativos autores dessa época, e sua peça Leonor de Mendonça teve altos méritos, sendo até hoje representada. Alguns romancistas, como Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, e poetas como Álvares de Azevedo e Castro Alves, também escreveram peças teatrais no século XIX.






O século XX despontou com um sólido teatro de variedades, mescla do varieté francês e das revistas portuguesas. As companhias estrangeiras continuavam a vir ao Brasil, com suas encenações trágicas e suas óperas bem ao gosto refinado da burguesia. O teatro ainda não recebera as influências dos movimentos modernos que pululavam na Europa desde fins do século anterior.








 

Os ecos da modernidade chegaram ao teatro brasileiro na obra de Oswald de Andrade, produzida toda na década de 1930, com destaque para O Rei da Vela, só encenada na década de 1960 por José Celso Martinez Corrêa. É a partir da encenação de Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues, que nasce o moderno teatro brasileiro, não somente do ponto-de-vista da dramaturgia, mas também da encenação, e em pleno Estado Novo.









Surgiram grupos e companhias estáveis de repertório. Os mais significativos, a partir da década de 1940, foram: Os Comediantes, o TBC, o Teatro Oficina, o Teatro de Arena, o Teatro dos Sete, a Companhia Celi-Autran-Carrero, entre outros.







Quando tudo parecia ir bem com o teatro brasileiro, a ditadura militar veio impor a censura prévia a autores e encenadores, levando o teatro a um retrocesso produtivo, mas não criativo. Prova disso é que nunca houve tantos dramaturgos atuando simultaneamente.
Com o fim do regime militar, no início da década de 1980, o teatro tentou recobrar seus rumos e estabelecer novas diretrizes. Surgiram grupos e movimentos de estímulo a uma nova dramaturgia.

sexta-feira, 18 de junho de 2010


Dulcinéia
Quem tu és não importa, nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo. 
  José Saramago



Obras publicadas


Romances
Terra do Pecado, 1947
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
Todos os Nomes, 1997
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
As Intermitências da Morte, 2005
A Viagem do Elefante, 2008
Caim, 2009

Peças teatrais

A Noite
Que Farei com Este Livro?
A Segunda Vida de Francisco de Assis
In Nomine Dei
Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido

Contos

Objecto Quase, 1978
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
O Conto da Ilha Desconhecida, 1997

Poemas

Os Poemas Possíveis, 1966
Provavelmente Alegria, 1970
O Ano de 1993, 1975

Crônicas

Deste Mundo e do Outro, 1971
A Bagagem do Viajante, 1973
As Opiniões que o DL Teve, 1974
Os Apontamentos, 1977

Diário e Memórias

Cadernos de Lanzarote (I-V), 1994
As Pequenas Memórias, 2006

Viagens

Viagem a Portugal, 1981

Infantil

A Maior Flor do Mundo, 2001

Premiações

De entre as premiações destacam-se o Prémio Camões (1995) - distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa; o Nobel de Literatura (1998) - o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.

Morreu José Saramago - Nobel da Literatura em 1998




segunda-feira, 31 de maio de 2010

CLASSICISMO


ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO



Durante o século XIV, a Europa começava a se preparar para uma grande transformação política, econômica e cultural que teve seu auge ou apogeu nos séculos XV e XVI, chamado de classicismo, também conhecido como quinhentismo, já que se manifestou no século XVI, em l527, quando o poeta Sá de Miranda retornou da Itália trazendo as características desse novo estilo. este fato marcou o início dos tempos modernos. Esse período, pela história passa a ser conhecido como Renascimento, onde o homem passa a ser redescobrir, mudar de valores ter uma nova visão do mundo.



A sociedade que era dominada pelo teocentrismo medieval passa a dar lugar ao antropocentrismo, ou seja, a valorização do homem, onde o homem passa a ser o centro dos estudos e a exaltação da natureza humana, pois o homem começa a entender sua capacidade realizadora:ele pode conquistar, inventar, criar, produzir e fazer qualquer outra coisa. Esse caráter humanista ou antropocêntrico estava esquecido nas "trevas" da Idade Média, embora já estivesse existido na Antigüidade clássica, como exemplo na civilização grega. No início do século XVI, ocorre o renascimento do Antropocentrismo. No Renascimento, as obras passam a perder o primitivismo e a ingenuidade das obras medievais e a ganhar um aprimoramento técnico igual ou até superior as obras da antiguidade.




O homem do Renascimento se identifica na cultura greco-latina que passa a ser os valores da época. Além de Integrar a seu universo artístico os deuses da mitologia grega,isto porque os deuses tem características humanas, como por exemplo, sentimentos, o homem renascentista procura compreender o mundo sob a luz da razão, e faz a associação do equilíbrio entre razão e emoção, as noções de beleza, bem e verdade.
A concepção estética que teve a base no Humanismo e no Renascimento convencionou-se chamar Classicismo, isto porque os clássicos eram os antigos filósofos greco-latinos que por sua influência e saber poderiam ser considerados importantes ao ponto de serem estudado em “classes”.





Classicismo e seu significado

Este termo também teve alguns significados, poderia referi-se a um escritor aristocrático.












Outra definição pode ser o classicismo como conjunto de caracteres estéticos, definindo o estilo cultural, artístico e literário de um período, por oposição ao barroco, ao romântico.


Os termos :clássico e classicismo também podem ser empregados a partir de uma mistura de definições de valores, como se arte greco-romana estabelecesse um padrão para toda a arte produzida posteriormente , e periodização histórica.
A oposição clássico/ romântico permitiria explicar, no limite, o desenvolvimento das artes e da cultura na Europa.





CARACTERÍSTICAS

» Imitação dos autores greco-latino: como exemplo: Homero, Aristóteles, que eram gregos;







                                                
                         Cícero, Virgílio, Horácio que eram latinos.


               

Um exemplo da influência desses autores pode ser vista em um trecho do poema de Camões,abaixo :


                                                  s armas e os barões assinalados
                                                Que, da Ocidental praia Lusitana,  
                                          Por mares nunca de antes navegados
                                              Passaram ainda além da Traprobana,


                                                (Camões, Os lusíadas)



» Preocupação com a forma: Rígida exigência quanto a métrica e a rima dos poemas; acentuada preocupação com a correção gramatical, principalmente com a clareza na expressão do pensamento, a sobriedade e a lógica; preocupa-se com a observância das distinções ou diferenças entre os gêneros literários.


» Construção frasal :ocorre a inversão dos termos na oração e de outras no mesmo período, isto devido a influência latina.


» Utilização da mitologia greco-latina: para dar um efeito mais artístico, porque os personagens mitológicos simbolizam ações, demonstram sentimentos e atitudes humanas.


» Universalidade e impessoalidade: ampla preocupação com as verdades eternas e universais, não levando em conta opiniões particulares e o pessoal, não se tem opinião do autor.

 Temas de interesse da época: como os descobrimentos e as expansões marítimas.


» Idealismo: A arte clássica era naturalista e objetiva; a realidade era idealizada pelo artista. A mulher amada era descrita como um ser celestial, igual aos anjos; a natureza era vista como uma região paradisíaca, onde a paz e a harmonia de bosques e florestas eram mostradas.


PRINCIPAIS AUTORES PORTUGUESES



Luís Vaz de Camões: (1525?-1580), O escritor mais conhecido e destacado do classicismo português. Escreveu poesias líricas e épicas, além de várias peças teatrais. A obra Os lusíadas, foi publicada em 1572 , mostra muito bem como era a visão do mundo e dos homens na época, algo próprio do classicismo. Serviu como matéria informativa, ou melhor, como uma reportagem de um dos fatos mais importantes da história portuguesa. O poema tem como tema principal a narração da viagem de Vasco da Gama as Índias,o enfoque maior é no povo português, em como conseguiu conquistar novas terras, por isso o enfoque é no povo e não em alguém específico.


Francisco de Miranda: (1495-1558), seus trabalhos giraram em torno da poesia e a comédia. Por ter vivido algum tempo na Itália, ele introduziu em Portugal o soneto,uma nova forma poética com base na arte renascentista.





Como Luis de Camões foi o mais destacado e conhecido poeta português deste período, será dado maior ênfase a ele.


                                                                   CAMÕES LÍRICO


A base do amor para os poetas clássicos fundamentava-se, em três pensamentos diferentes: o racionalismo, a idealização e o espiritualismo.



                                                                         PLATONISMO


Platão, (129-347 a.C), influenciou muitas das poesias de Camões. Principalmente no que se refere a Beleza e ao Amor. Para Platão,que tinha um pensamento meio espiritual, nossa alma, que segundo ele está presa ao corpo na vida terrena, passa a ligar-se a beleza, isto porque a pequena memória de uma Beleza soberana contemplada em outro universo. O amor platônico é na verdade, a supremacia em direção a Beleza que ultrapassa a pessoa e os prazeres dos sentidos.




                                  QUADRO COMPARATIVO


                 CLASSICISMO                              TROVADORISMO



1)lírica camoniana; idealização amorosa     1)amor cortes-sofrimento amorosos
2)predomínio da razão                               2)predomínio da emoção
3)paganismo                                              3)cristianismo
4)influencia da cultura greco-romana          4)influência da poesia provençal
5)antropocentrismo                                    5)mentalidade teocentrica
6)ambiente universal                                   6)ambiente rural e cortes
7)racionalismo                                            7)tema:amor saudade e critica
8)nacionalismo                                            8)exaltação do ideal cavalheiro




quinta-feira, 27 de maio de 2010

A LITERATURA MEDIEVAL PORTUGUESA : AS CANTIGAS


                                                                   CANTIGAS


As primeiras obras literárias portuguesas são elaboradas em versos: são poemas. Como ainda não há imprensa nessa época, os poemas medievais são orais e com acompanhamento musical, recebendo, por isso, o nome de CANTIGAS ou TROVAS. As cantigas são divulgadas nas ruas, nas praças, nas festas, nos palácios; para facilitar sua memorização e divulgação, as cantigas são elaboradas com versos curtos que não seguem necessariamente as normas da Versificação e que se repetem pelo poema; além disso, a linguagem das cantiga é extremamente fácil, pois, a língua falada em Portugal é o GALEGO-PORTUGUÊS, uma língua simples e ingênua.

É das palavras TROVA e TROVADOR ( poeta nobre que faz trovas) que deriva o nome mais comum que se dá a toda Literatura Portuguesa elaborada na Idade Média: TROVADORISMO
As primeiras cantigas ou trovas medievais portuguesas são inspiradas nas cantigas que há muito tempo já eram feitas em Provença, no sul da França; por isso, a Literatura Medieval Portuguesa também é chamada de LITERATURA PROVENÇAL




                                                                   CANTIGA DE AMOR     


o eu-lírico é masculino; o conteúdo dessas cantigas consiste numa declaração de amor a uma mulher.
- o homem revela seu amor platônico, pois tal amor não pode ser correspondido pela amada, já que ela é casada, ou mais rica que ele, etc, ou seja, existe pelo menos um obstáculo impossível de ser superado para que o amor entre ambos se concretize;

- diante da impossibilidade de que seu amor seja correspondido pela amada, o eu-lírico diz se contentar pelo menos em ver a amada e, caso nem isso seja possível, ele prefere morrer;

- a amada é sempre idealizada, divinizada e cultuada;

- a amada é tratada pelo pronome SENHORA. Para compensar a mulher das desvantagens por ela sofridas na sociedade patriarcal, no relacionamento amoroso o homem finge-se inferior a ela e, numa atitude de VASSALAGEM, passa a tratá-la com a mesma cortesia, respeito e submissão com que trata seu senhor feudal nas relações sociais ( no seu dia a dia): em suma, no relacionamento amoroso, a mulher aparece como SUPERIOR ao homem. Há alguns estudiosos que levantam a possibilidade de que o homem trata a mulher por SENHORA, no relacionamento amoroso, visto que ela adquire um caráter divino e é cultuada por ele como se cultua uma deusa, uma santa ( como se ela fosse Nossa SENHORA, mãe de Jesus); de qualquer forma, essas duas possibilidades mostram que o homem transfere para o relacionamento amoroso as práticas mais importantes de seu dia a dia: a de vassalagem e a de religiosidade extrema;

- o nome da amada não é revelado;
As cantigas de amor, portanto, apresentam um conteúdo que expressa tristeza, solidão, amor platônico, desejos não realizados, etc, ou seja, possui "tom" triste: pertencem ao GÊNERO LÍRICO e , pelo conteúdo melancólico, são ELEGIAS.





                                                CANTIGA DE AMIGO

o eu-lírico é feminino. Consiste num desabafo da mulher acerca da vida (terrível) que leva numa sociedade patriarcal e/ou na declaração de amor pelo seu amigo (seu namorado) e da saudade e do ciúme que sente dele, já que lhes falta liberdade para seus encontros. Tal desabafo normalmente é dirigido a outra mulher ( sua mãe, irmã, amiga, etc, que a entende, pois passa pelos mesmos dissabores), a Deus ou a algum elemento da natureza ( mar, árvores, céu, etc).


Assim como as cantigas de amor, as cantigas de amigo também possuem conteúdo melancólico: são do Gênero Lírico - elegias.

A informação mais curiosa que se tem a respeito das cantigas de amigo, porém, é a de que elas são elaboradas por homens . Ao que parece, eles penetram e entendem a alma feminina tanto quanto ou, às vezes, até mais que certas mulheres.

                                             CANTIGA DE ESCÁRNIO
 
 
é uma sátira que critica indiretamente o sistema ou alguém ; a crítica irônica é tão bem elaborada que, por parecer um elogio, tal tipo de cantiga é a preferida dos senhores feudais

A primeira obra literária portuguesa de que se tem notícia data de 1189: a cantiga "A RIBEIRINHA", de autoria de Paio Soares de Taveirós, uma cantiga de amor em homenagem a Maria Paes Ribeiro; como os poetas não podiam revelar o nome das suas amadas nas cantigas de amor e como a homenageada era casada, o autor dessa cantiga se inspirou no sobrenome da amada para nomear sua obra



                                                                     OS "CANCIONEIROS"
 
CANCIONEIROS são "arquivos" onde são encontradas algumas das cantigas medievais portuguesas (as que foram compiladas e guardadas). Conhecem-se 3 Cancioneiros de poemas em galego-português:


3.1."CANCIONEIRO DA AJUDA", encontrado no Convento da Ajuda, é o mais antigo dos Cancioneiros; provavelmente copiado em fins do séc. XIII, possui 310 cantigas, sendo que 304 delas são cantigas de amor. É considerado o mais incompleto dos 3 Cancioneiros, pois não contém os poemas do rei-trovador D. Dinis, mas é um documento valioso, pela grafia e partituras originais.
3.2. "CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA" ou "CANCIONEIRO COLOCCI- BRANCUTI" , é o mais completo dos Cancioneiros galego-portugueses: possui 1647 cantigas de todos os tipos; encontrado primeiramente na biblioteca do Conde italiano Brancuti, no século XVI o Cancioneiro passou a pertencer ao humanista italiano Angelo Colocci ; em 1880, o Cancioneiro foi vendido à Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra até hoje.


  3.3. "CANCIONEIRO DA VATICANA". Pesquisando a biblioteca papal, Fernando Wolf descobriu esse Cancioneiro de 1205 cantigas, dentre elas as de D. Dinis , que aparecem também no "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa".

Graças à existência desses Cancioneiros que temos hoje exemplos de cantigas medievais portuguesas, mesmo que a maioria delas sejam de autoria de poetas nobres e que as mais populares (e, por isso, bem interessantes) perderam-se no tempo.





                                                                           GIL VICENTE

Gil Vicente (1465 — 1536) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.



                                                   A FARSA DE INÊS PEREIRA



Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão.


O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que satisfazia a idéia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela moça.

Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe.
Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta.


Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde.

Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante. 

Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube